Sobre introduções a investidores

Acho que a importância de um introdução ‘quente’ já é um tema com uma vasta literatura na web, mas algumas coisas não tão óbvia que venho pensando. A melhor pessoa para te introduzir a um VC é a pessoa com melhor capital social, que confiam e que “devem” alguma coisa. Por isso que, geralmente, os cofounders de empresas investidas são uma ótima ponte, principalmente o que figuram nas empresas mais queridas ou mais bem sucedidas do portfolio. Essas pessoas possuem um apreço e atenção muito grande dentro das gestoras. Então, se você consegue uma introdução com uma dessas pessoas, certamente vão falar de você nos bastidores e alguém marcará uma reunião com você.

Quanto maior a combinação do i) social capital e do ii) apreço da pessoa que faz introdução melhor. É possível imaginar uma ordem de relevância mais ou menos assim:

  1. Pessoas de confiança/trusted relations dos Partners das gestoras
    • Empreendedores de sucesso/serial founders investidos anteriormente
    • Empreendedores de sucesso/serial founders de relacionamento desse partners
    • Empreendedores do portfolio do investidor
  2. Investidores VC de estágios posteriores ao do investidor (fundos late-stages)
  3. Investidores LP dos fundos desses investidores
  4. Investidores VC do mesmo ou de estágio anteriores
  5. Advisors (advogados, consultores, etc.)…
  6. Cold Call

(PS: esse é um esboço, mas que pode funcionar de diferentes formas ou em outra ordenação para outras pessoas)

Outra ideia de introduções é a do Matt Mochary, coach dos principais CEO do Silicon Valley e autor de “The CEO Within”, que sugere em um de seus textos (recomendo ler todo o texto) que levante de 3 a 5 introduções para aquele investidor, e que todos façam na mesma semana.

Ele explica melhor assim essa forma de construção do seu capital social:

  • “… primeiro encontre de três a cinco pessoas em sua rede que conheçam essa pessoa. Em seguida, peça a cada uma delas que envie um e-mail ao investidor alvo, informando o quão relevante eles acham que você é e recomendando fortemente que ela se encontre com você. Depois de receber vários desses e-mails, o investidor entrará em contato com você proativamente. Ela já recebeu recomendações antes, mas nunca três ou mais para a mesma pessoa…”

Isso cria uma percepção natural importante sobre você e dá maior importância dentro das diversas introduções que o investidor recebe. Porém, é importante ter em mente que essa segunda tática é uma forma de fortalecer a aproximação, mas ela ainda vive dentro da regra da tática anterior.

Algumas (novas) ideias sobre PMF para fechar 2024

Eu tenho planos de fazer uma nova edição do Playbook de PMF com novos aprendizados coletados depois que lancei e das interações recentes com startups. Enquanto não consolido a nova versão, aproveito para compartilhar algumas ideias curtas sobre PMF, que pretendo incluir no próximo do playbook:

  1. Uma Startup tem por existência o objetivo primário de solucionar um problema. Para saber se esse objetivo vale a pena, surge o PMF. Portanto, o PMF é o primeiro grande desafio de uma startup, para descobrir se faz sentido estar viva. O PMF ajuda a checar o pulso da realidade do seu produto e de GTM, e te dizer se está na direção certa. Porém, o PMF não te diz o que construir.
  2. “O que construir”, em inovação, não está no que o cliente pede explicitamente – por exemplo, “cavalos mais velozes” -, e sim no que o founder traz de visão de mundo e futuro, o seu segredo único e conhecimento dos problemas e dinâmicas de mercados, alinhados as inflexões e suas oportunidades de mercado. (Recomendo o livro Pattern Breakers).
  3. Um PMF é basicamente uma heurística de Venture Capital para explorar o produto que retém e cresce, e suas abstrações. Mas a verdade é que apenas isso não é o suficiente para o VC. É preciso de visão de longo prazo e um posicionamento para se tornar um negócio relevante no futuro. (Referência: Tackling product-market fit: Tactics and frameworks for new and future founders – Bessemer Venture Partners )
  4. É preciso basicamente necessário dois fits: Produto + GTM. É a famosa luta por inovação vs. distribuição, porém é preciso das duas para se tornar o líder de uma categoria (até algum insurgente trazer uma inovação disruptiva). Dito isso, um dos erros mais comuns nessa fase é encontrar o fit do produto, e despejar investimento em um GTM sem eficiência ou diferencial.
  5. Atualmente, para GTM em categorias de produtos já existentes, o MVP não é mais sobre validar uma ideia o mais rápido possível, e sim, construir uma versão da sua ideia que é, não só melhor, mas diferente do que qualquer outra alternativa existente naquela categoria. É preciso elevar o nível da categoria existente. Por isso é preciso refinar ao máximo a sua versão antes de sair a mercado. (referência: Rethinking the startup MVP: Building a competitive product | Linear )
  6. A melhor – talvez a única(?) – forma de validar um negócio, é vendendo e retendo os clientes. Se o cliente dizer “Hell Yeah!”, você provavelmente tem um bom caso de uso na mão para replicar em um negócio. (Recomendo: The Worst Outcome is a Mediocre Success – by Abraham Thomas )
  7. Para um PMF intencional e deliberado, é preciso seguir firme um bom framework e uma boa base de análise de dados. Um thought partner para auditar o PMF pode ser um plus.
  8. Pivots acontecem muito em VC. Para não precisar ter que pivotar, é só ficar tentando várias coisas ao mesmo e não apostar em nada (contém ironia). Existem vários tipos de pivots, alguns mais duros e outros mais leves. Mas é mais fácil pivotar o ‘quem’ (mercado/ICP) do que o ‘Como’ ou ‘O Que’ (produto, máquina de vendas), e, muito menos, o Por Que (visão e propósito).
  9. PMF é um espectro de forças. Não é algo binário. O posicionamento do produto é chave nesse processo. (referência: DealflowBR #87)
  10. No fim do dia PMF é sobre sustentabilidade e replicabilidade: 1) se aquela entrega de valor para o cliente é capturada de forma sustentável pela empresa, 2) se a máquina de crescimento é capaz de replicar e escalar essa entrega de forma eficiente e, por fim, 3) se há mercado suficiente para a exponencialidade.

Nota / (Des)Complicando a descrição do produto

Adorei esse texto do Andrew Chen, investidor pela a16z e autor do livro Cold Start Problem (recomendadíssimo), e que é complementar sobre o meu artigo recente sobre Posicionamento. Neste artigo, ele explica como vamos complicando gradualmente o posicionamento de produto, de algo Simples e Claro até uma descrição “WTF”, até double-WTF. Vejo isso especialmente útil para elevator pitches de poucos segundos em eventos.

Além dessa régua de apresentação do produto, o autor traz algumas dicas de como desenvolver o seu posicionamento e a importância de saber fazer o link de uma categoria anterior para explicar a sua nova categoria ou inovação.

No trecho abaixo, ele explica como foi a transição da categoria de carruagens com cavalo para o carro:

“A famosa citação de Henry Ford diz: “Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, teriam dito cavalos mais rápidos.” Claro, é seu trabalho entregar essas inovações, mas você deve aprender a descrevê-las. E os carros foram originalmente chamados de carruagens sem cavalos por uma razão — para fechar a lacuna entre o que os clientes entendem e o que eles realmente querem.”

O último parágrafo também resume bem a mensagem do texto e como talvez o ego nos atrapalha na hora de apresentar o nosso produto:

“A parte mais difícil disso para muitos criadores de produtos é simplesmente que o ego quer ser diferente. As pessoas querem crédito pela inteligência de sua ideia. E a linha de pensamento é que, quanto mais complexo, mais inteligente, o que significa que elas são mais espertas. Os clientes não se importam com isso. Eles só querem entender como o seu produto se encaixa na vida deles e quando devem usá-lo. É isso.”

Nota / O poder das plataformas

Estava relendo esse belo texto que traz várias ideias e insights para quem está construindo plataformas de negócios.

Primeiro, as questões de Stickiness e Multihoming são primordial para avaliar o real efeito de rede de uma plataforma. Sem isso, o efeito de rede é fraco e pode ser perdido.

Para entender a dinâmica dessas forças em mercado de software e plataformas, o autor sugere não olhar só na cadeia de valor, mas principalmente os diferentes layers de um stack vertical do usuário. Em um mundo de stacks de tecnologia com cada vez mais players diferentes, é importante entender qual layer é o padrão de relação com o usuário nesses stack.

Quanto mais na base mais poder tem dentro do Stack mais poder ou defesa se tem. Por exemplo, o Iphone (Hardware + iOS) é o layer mais poderoso de padrão da relação do usuário, por isso a Apple tem tanto poder nas relações entre empresas de software. No caso, de forma similar da imagem, mostra como o Google foi construindo a sua defensabilidade ao ir descendo dentro das layers de interação. Search Engine -> Chrome -> Android. E talvez por isso que o Google pagou $10bn para a Apple para ser a Serach Engine Padrão do Safari (Serach Engine -> Safari -> IoS).

Gostei muito dessa descrição de Plataformas e seu Moats: Você vai subindo no stack para construir a plataforma e você desce nele para construir a sua defesa.

  • _As a result, you see companies trying to: create layers on top of their business (everyone wants to be a platform) – up

    move down the stack to get closer to the base layer (to increase defensibility) – down

Vale a leitura.